sexta-feira, 16 de abril de 2010

O negócio é Coletivo!

Foto:Thiago Caux

A cena independente brasileira é fomentada por uma galera que bota a mão na massa. Os coletivos e circuitos trabalham pra caramba para organizarem eventos, shows e grandes festivais com o objetivo de propagar a boa – e eclética – música independente produzida atualmente no Brasil.

O Oi Novo Som conversou com Lucas Mortimer, do Coletivo Pegada de Belo Horizonte (Que integra o Circuito Fora do Eixo), sobre a cena independente, a lógica de organização em redes e como as bandas podem se organizar e entrar nesse circuito.

Se liga na entrevista:

Oi Novo Som: A ideia de organizar um Coletivo parte de onde? Quem pode integrar um Coletivo?
Lucas: A ideia vem das pessoas interessadas em trabalhar em conjunto pra fomentar a música independente. O Pegada veio daí, de uma necessidade de formação de público pra música independente de Belo Horizonte. Inicialmente eram bandas e o trabalho foi crescendo e agregando além de músicos, produtores, jornalistas, designers, comunicadores, enfim. Tem advogado, por exemplo. Pessoas que se interessam em trabalhar na cadeia produtiva da música.
É uma questão espontânea de cada cidade formar seus coletivos.

ONS:
Como vocês se estruturam? Tem apoio? Patrocínio?
Lucas: A princípio essa estrutura é informal. Cada coletivo tem o seu desenvolvimento. O Cubo, de Cuiabá, por exemplo, depois de 10 anos eles se formalizaram como uma associação. O Pegada existe há um ano e meio e a partir do início desse ano, passamos a pensar nessa questão. Começou a entrar algum recurso pra dar sustentabilidade pro Coletivo.
Inicialmente o trabalho é pautado no voluntariado mesmo, tirar do próprio bolso. É como se estivesse investindo numa carreira pra trabalhar com música e a coisa chega num momento de dar frutos. A partir daí vamos formando o que chamamos de “núcleo durável”, pessoas que passam a ter dedicação exclusiva.

ONS: Como o Coletivo Pegada vê a cena independente atualmente?
Lucas: Vemos como um grande momento de transição que já começa a dar uns primeiros passos de consolidação, dado o histórico de mudança na indústria da música, com o advento da internet e com a queda nas vendas. Surge aí um novo modelo de troca, onde bandas não precisam mais necessariamente tocar em rádio para terem público. Com o desenvolvimento dos festivais e coletivos, um novo modelo de circulação, distribuição e produção de conteúdos está surgindo.

ONS: E em relação às bandas?
Lucas: A ideia de todo esse processo é dar sustentabilidade às várias bandas de qualidade que vem surgindo nesse circuito. Antes era só com contrato de gravadora. Hoje é circulando pelos festivais e casas de shows. O Black Drawing Chalks, o Los Porongas, o Porcas Borboletas, entre outros, são exemplos disso. Rodaram muito nesse circuito. Assim vão formando público e conseguindo se sustentar.

Black Drawing Chalks é uma banda boa que se dispôs a fazer isso. Precisamos de mais bandas boas dispostas a buscar essa sustentabilidade num mercado ainda alternativo. O artista tem que pagar as contas, tem que sobreviver daquilo que ele gosta de fazer que é a música.Várias bandas vêm fazendo isso de forma muito saudável e isso repercute na cena.

ONS: A organização de eventos e até grandes festivais, inscrição de projetos em editais estaduais e federais, enfim, são feitas coletivamente? Podemos dizer que isso é uma tendência no modelo de organização da cena independente?
Lucas: Com certeza. Os grandes festivais vêm de uma demanda local de pessoas interessadas em ver a boa música acontecer. April Pro Rock tem muito a questão do manguebeat e foi uma necessidade de expor essa cena que tava rolando ali pro Brasil. Da mesma forma em Goiânia, o Noise, um tanto de banda de rock querendo tocar e não tinha espaço, aí elas se uniram pra formar festivais e vai evoluindo. São grandes exemplos que estimularam essa nova cadeia, esse novo formato de festival independente. Diferente daqueles da década de 60, com a galera competindo.
Os coletivos surgiram da percepção de que os festivais não dão conta de alimentar a cena o ano inteiro e há essa necessidade. É aí que entra o trabalho coletivo.

ONS:
Você tem ideia de quantos coletivos integram essa rede que realmente faz a cena acontecer?
Lucas: O Pegada integra a Rede Nacional Circuito Fora do Eixo. São mais de 45 pontos Fora do Eixo e têm também pontos parceiros da rede, como casas de show, pontos de comunicação e até pontos em cidades menores que ainda estão entrando na rede. Em Minas Gerais têm 9 pontos Fora do Eixo e 7 parceiros. É o estado com o maior número de pontos.

ONS: Resumindo, o negócio é colaborativo?
Lucas: Isso! A sociedade civil precisa se organizar pra buscar os meios pra desenvolver o que ela quer. O Pegada desenvolve gestão social e do trabalho, não só música. Buscamos nos organizar inclusive pra cobrar politicamente os nossos direitos.
Aqui também existe o Fórum Música de Minas, por exemplo. São cinco entidades que se reúnem toda terça-feira pra discutir coletivamente novos meios pra fortalecer a cadeia produtiva da música no estado.
Se a gente conseguir se enxergar, conseguiremos criar espaço pra todo mundo e fazer a cena fortalecer e aparecer!

Luiza de Sá

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